Quando o silêncio se comunica
Optei por estar junto de minha avó todos os dias nessa sua despedida. Isso me fez descobrir que a comunicação também acontece no silêncio. Diria mais, é no silêncio que o coração ocupa o lugar da mente e a verdade aflora.
Existe uma sutileza que permeia toda relação humana e ela se manifesta quando aprendemos a sentir, muito mais do que interpretar. Quando isso acontece um piscar de olhos tem a força de um abraço, o leve gesto de um lábio que busca força em seu contorno fragilizado é capaz de dizer o que as palavras nunca alcançam.
Posso dizer que o quarto 408 do hospital tem presenciado boas conversas no silêncio entre eu e minha avó nestes últimos dias.
(…)
Perder alguém muito próximo sempre nos leva a refletir sobre a vida. Penso, inclusive, que a morte diz muito mais sobre quem fica do que sobre quem vai, por isso estar em dia com um sentimento mais leve pode ajudar.
Muitas vezes passamos boa parte de nossas vidas nos escondendo atrás de quem verdadeiramente somos, deixando de expressar nosso amor mais profundo, nossa real essência humana, sem nos darmos conta de que a única coisa que importa são as relações humanas. Nós nos encontramos no outro.
Não me cabe aqui julgar ninguém, cada um sabe as dores e alegria que carrega em sua jornada. Sei também que as relações humanas são conflituosas, estão sempre carregadas de dores e de um passado que está sempre ansiando por respostas. No entanto, o único caminho que pode nos conduzir a uma vida mais plena é o amor. E ele se expressa de muitas maneiras.
Quando olho hoje a minha avó, deitada na cama prestes a nos deixar, é no amor que ela espalhou que sinto a sua presença. Aliás, ela sopra ao meu ouvido.
PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. É autor também do documentário “Pausa”. Depois do sabático em 2018, nunca deixou de tomar um café ao pé da cama de sua avó.